Pesquisar neste blogue

11 maio, 2006

Ode aos Declamadores

Inspirado pelo excelente trabalho de Luís Gaspar no seu audioblog Estúdio Raposa (que já tinha mencionado no post anterior) criei este blog para apresentar ao mundo o que antes apenas uma "gaveta informática" e algumas pessoas conheciam: os meus textos.
Pois o Luís continua a inspirar-me. Quando eu considerava contactá-lo para pedir-lhe autorização para fazer uma colectânea das melhores leituras nas Palavras de Ouro, após ouvi-lo recitar na edição número 41 "A Tabacaria" de Àlvaro de Campos (que para mim é O POEMA) de uma forma que me leva a confirmar a consideração que já trazia comigo de que muitos ainda estudarão o seu trabalho de leitura poética, como referência histórica no futuro (e não estou a exagerar, pelo menos não dentro de mim - é uma afirmação verdadeiramente alta e nobre e lúcida!), o Luís convidou-me a apresentar-lhe um texto para leitura sua. Em relação a isso está tudo dito no anterior post, mas a sua declamação do meu poema foi tal e mexeu de tal maneira comigo que escrevi, naturalmente e sem pensar, os versos que vos exponho aqui hoje; em homenagem aos grandes artistas declamadores que como o Luís Gaspar, fazem das palavras Ouro!


O Luís Gaspar, o artista, transformou este minério em Jóia. Ouça aqui:
Lugar aos Outros #4




Não há poesia sem declamador.
É o declamador que faz a poesia; é ele quem constrói o mito,
é ele que lê o Ouro nas palavras que uns lêem vulgares,
outros nem tanto, seja em voz alta para os outros
ou para si em pensamento...
sim, porque não se pode declamar no pensamento?
Nada o impede.
Na ligação que tudo une, um pensamento faz a diferença!
Destrinça-se dos outros, marca a cadeia quiçá infinita
de rolantes modas, media e medianas...
Mas só um pensamento, dito ou pensado,
na pureza da postura de quem se faz mártir por opção
e decide ser veículo para o que tanto embebedou o poeta
pode ser marcante, pode de facto ser divino!
O declamador é como um ourives.
Ele labuta dentro de si os fios da sua própria existência
fundindo-os com os da existência de outrem
em jóias caras distribuídas a troco de nada.
O poeta dá o ouro cru, a pedra lascada,
o declamador dá tudo, a vida,
a voz, o pensamento, a alma
e no fim é quem fica com nada.
Fica com nada porque já de seu tinha dado tudo...
ao poeta.

O poeta é o mineiro,
o declamador é o artista.

Bem ditos sejam os artistas!


Com humilde agradecimento,
Rui Diniz

3 comentários:

Anónimo disse...

Por isso eu disse ao Luis que nada melhor que saborear a poesia, quando declamada por outro. Quando a lê, torna-a sua, deixa de ser do Poeta.
Eu gostei muitíssimo do teu espaço, Rui!
Aqui fica aquilo que pensa o poeta ao ouvir as palavras tomarem voz e espalharem-se tal qual o vento quando assiste ao ocaso do sol. Fica aquela luz, um halo que tudo envolve. Ele não fica mais pobre. Ele não perdeu algo de seu. Ele ganhou e fica mais rico, enquanto ouve, as palavras melopeicas.
Um beijo, Rui Diniz.



Está fascinado, o Poeta!
Escaparam-se os vocábulos
Com que formava frases,
Soluços que partilhava
Com o pensamento
Que lhe gotejava para as mãos…

O que ele podia ter escrito
Já não o aflige,
Não o atormenta.

Não é tristeza o que sente,
Pois que pode ouvir
Calado,
Uma melodia,
A voz de quem lê um momento seu.
E as pedras,
As plantas,
Todo o chão florido,
Está coberto de frases.

Sabe a viagens,
Todas as que idealizou,
Enquanto se inebriava
Com a ventura de escrever
Sobre um céu
Rico de azul;
Sabe à água que olhava,
Correndo bondosa,
Pelo leito do sentimento
Que o enchia,
Quando se sentava,
E pegava, sereno, na caneta…

Está fascinado, o Poeta,
Não nostálgico.
Experimenta sim,
A divina graça de se sentir feliz,
Sorrindo ao sol,
Que aquece toda a harmonia
Que floresce, como um bem,
Sob os seus pés, em pétalas alvas,
Qual Poesia cantada pelo declamador,
Decantador dos seus sonhos.

Já te linkei e o meu canto ficou rico, rico!

RD disse...

Mas que maravilha! Que algodão tão doce e perfumado veio na brisa primaveril!
Oh Cristina, Muito Obrigado. Guardei o teu poema, espero que não te importes! ;-)

Estamos de acordo, Cris! O poeta não pode viver sem quem atire ao mundo suas palavras, sem quem lhes dê vida própria e lhes "ache ouvidos de gente" :-)

Sinto agora a "divina graça de me sentir feliz" pelo que o Luís me deu... e pelo que tu me deste!

Muito Obrigado!

Anónimo disse...

Mais uma joia na tua coroa!
E que Joia esta!