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29 agosto, 2006

Cavalheiro

Hoje, fumei um cigarro.
Emprestaram-me o isqueiro,
deram-me o invólucro branco-laranja,
e foi com a alma em franja
que cheguei à sala do fumeiro
e entre a impestação alheia por catarro
me esfumarava inteiro.

Entrou uma mulher;
"Tem lume?" - mordendo o cigarro ao meu fogo ofertado
"Sim" - passando-lhe para a mão o mecanismo emprestado
Surpresa, não se conteve; "Julguei ser um cavalheiro!"
Rindo-me retorqui, com o meu ar mais matreiro:
"Que maior confiança deposito que ter na mão o meu isqueiro?"

É que nestas convenções de cavalheiros
escondem-se sagazes predadores de atenção,
mas são os que não procuram ser certeiros
que guardam os melhores sorrisos
no coração!


Rui Diniz

4 comentários:

Menina Marota disse...

Deixo um sorriso pelo poema... gostei!

Um abraço e bom fim de semana ;)

RD disse...

Obrigado, Marota!

"Consumo" os seus escritos com regularidade - agradeço esta partilha! :-)

Abraço!

Anónimo disse...

Agora lendo os seus textos me pego a pensar qual será o seu estilo? Como faço para entender o caminho que vc esta trilhando? Ao que me parece vc esta apenas "escrevendo" sobre sua realidade.
Uma mistura de Alvares de Azevedo com Olavo Bilac, Cruz e Souza com Cecília Meireles?
estarei sempre aqui buscando estas respostas.
Jeane

RD disse...

Jeane:

Bem vinda! Acertas quando consideras que vou escrevendo acerca da minha realidade. Mesmo quando se misturam factos com sonhos ou imagens, a realidade que eu vivo está lá.

Assim, apesar de desejar ajudar-te, não sei integrar os textos num estilo. Isto não é fruto de uma assunção de corrente própria, mas sim da mais pura sinceridade.

Fico muito feliz de saber que continuarás a visitar este espaço. Espero que continue a agradar-te.

Obrigado,
Diniz