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29 setembro, 2006

Menina

Fotografia de autoria de Maria Paula, enviada por C.L.

Menina princesa,
menina traquina,
de alma acesa
que tanto ensina.
Frágil, franzina,
a morena menina
com demais certeza
de ser pequenina!
Mártir que choras
no quarto cinzento
e sem fé imploras
o fim do tormento!
Chora menina,
chora que o vento
te leva o lamento
p'ra álem da surdina.

Vives memórias
p'lo futuro que vem,
vives histórias
não sabes de quem!
Menina bonsai,
já nunca enxuta
desde que o pai
lhe chamou de puta.
Tu nunca lutaste
nem sabes fugir,
mas nunca deixaste
de saber sorrir!
Menina graúda,
sorri que o tempo
limpa o lamento
à tua voz muda.

Teus olhos, menina,
alagam tristeza
mas na tua sina...

ganhaste a pureza!


Rui Diniz

27 setembro, 2006

A Luiz Gaspar

Hoje é dia de Lugar aos Outros #20. Dia adequado para homenagear o trabalho do Luiz Gaspar!



Como te sentes meu amigo,
sabendo que por tua Voz passam os Sonhos da gente
que investe a ilusão da vida no papel e virtual?
Que transportas pelas nuvens de uma escuta
os vislumbres divinos que dão luz a quem não a sente
por moldar as palavras nessa tua dedicação floral?

Como te sentes meu amigo,
sabendo que mudaste a vida de tantos que nem sabes,
que mudaste o patamar de direito à aspiração?
Ascendes muitos, nobre amigo,
àquele reino que só em cada humano, sem entraves,
se atinge sem dores uma pura libertação.

Como te sentes meu amigo,
saboreando o pão que sabe a pão e a ginja raposina,
partilhando a sensação de que nada cai mal?
A tua toca é um refúgio
dos que na sua vida por sentido, sorte ou por sina
têm de fugir à aprisionante engrenagem social...

...

Ah... mas falando por mim,
sou um honrado e um sortudo!
Fiz-te de um sonho meu, convidado
e tu chegaste
e deste tudo!


Rui Diniz

20 setembro, 2006

Fim de mais um dia

E enfim, aqui estou de consciência,
na fila do fim de mais um dia,
entre as cornetas da impaciência
e os batuques de melancolia...

Nesta estrada tão fria, vê-se a vida....
uns agarram-se a ela como a um lugar;
uns outros aguardam nela uma saída
enquanto se debatem, procurando amar...

Soa mais um aviso; "Erraste, vilão!
Roubaste-me uns segundos de tristeza!
Preciso tanto de alguém que me estenda a mão...
mas só insiro no mundo uma raiva acesa!..."

Ai... aqui estou eu de consciência...
no coágulo do fim de mais um dia,
entre os gritos impacientes por clemência
e os batuques de uma fome
de alegria...



Rui Diniz

08 setembro, 2006

Monogamia

Como seria
se tudo isto não o fosse
e a monogamia
nada mais que uma ideia?

Quererias, meu doce?

É verdade que
este mundo é uma aldeia
de poderosos intrometidos,
um bando que negoceia
em lojas sem montra
as regras dos vencidos!...
Mas se nenhuma regra fosse contra
e a moral, ideia que não importa,
já serias tu para mim outra
e o meu desejo,
coisa morta!


Rui Diniz

O vento da Verdade

O vento que passa nesta herdade
é o vento que dela espalha a Verdade.

Ele sopra, brando ou imerso em fúria
e não se importa com a nossa incúria!

Este vento que aqui passa, passa porque o sinto;
não houvesse eu nem formiga, nem mosca, nem nada,
o Universo inteiro pensaria que minto!...

...Mas eu deixo que a verdade do vento
me invada!


Rui Diniz

04 setembro, 2006

O Dia Antes

de Carlos Calado

Texto lido no último Lugar aos Outros. Apresento o meu amigo Carlos Ricardo Calado:

"O Carlos Calado, ou apenas Calado como os mais próximos o conhecem, nasceu já com um teclado e rato incorporados, tendo-se imediatamente ligado ao monitor da vida, configurado a sua interacção por ethernet, tendo sido por diversas vezes o host de uma rede enorme de amizades que espalhou por aí e testou várias ideias periféricas por USB. Ora uma dessas ideias que instalou no seu sistema operativo (e que creio, por muito que tenha desinstalado, permanece como um vírus dificil de remover) é a da escrita criativa. Lembrava-me eu vagamente que este meu amigo de infância que tinha nascido para e com a informática, hoje empresário nessa área - função que diz roubar-lhe todo o tempo - dizia eu que me lembrava vagamente que ele tinha passado por período de escritos introspectivos e confirmei, há bem pouco tempo, que o génio da literatura soprou-lhe ao ouvido alguns códigos que programaram textos maravilhosos. Sabendo eu que o tempo que se tem é o tempo que se dá a nós próprios, apresento-te, meu grande Amigo Calado, ao mundo do Estúdio Raposa para que sintas, espero, o incentivo de te dar tempo para que esse génio que aguarda pacientemente em ti possa cantar."

Leia "O Dia Antes" aqui e ouça-o no Lugar aos Outros #17 do Estúdio Raposa.

01 setembro, 2006

Morrer!

Desejei de novo morrer!

Nenhum acto é generoso
e a inacção é ela assim
como um Amor preguiçoso
num fundo poço
de visões sem fim!
...Que esta Alma em alvoroço
irá de novo nascer!

Renascer é só morrer!

De nada valem os intervalos
por uma Luz que nunca chega
e nos convida, intrometida,
a viver sonhos e largá-los
ao sopro da brisa cega
que passeamos cada vida!

Todo o ser tem de morrer!

Que queres de mim, escuridão?
Existes tanto quanto eu!
Alimentas-te dos que te dão
em todas suas formas de ser
um nobre pedaço seu...
... para no fim,


morrer!


Rui Diniz