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25 fevereiro, 2007

Larguei-te no Mar

Fotografia de autoria de Dulce Lázaro.
Pode ouvir a minha declamação deste poema, aqui: Larguei-te no Mar


Larguei-te no mar hoje...

soltei as tuas cinzas de dentro de mim
e expus-te ao vento cantante;
ele levou-te mas nunca te espalhou.
Manteve-te na íntegra
a mulher que hoje é passado
e que inteira me renunciou.

Foi melhor assim
e não sobreviverá em mim qualquer mágoa,
mas libertando-te nesta água,
procurando de ti hoje o fim,
compreendo
que se o sol fura o cinzento do céu
só para te ver...
é porque alguma coisa entre nós
ficou por viver...


Rui Diniz

19 fevereiro, 2007

Poeta!

Duvidam da palavra de um poeta?!
Um poeta ama as palavras!
Um poeta tem muitas não só uma!
Um poeta sabe que ou tem as palavras certas,
ou nenhuma!

Com que autoridade tiram crédito ao poeta?!
Um poeta ama as verdades!
Um poeta tem muitas não só uma!
Mesmo que não concretas, o poeta ou tem várias,
ou nenhuma!

Quem são eles para humilhar o poeta?!
Um poeta ama o ridículo!
Um poeta veste de ridículo a sua pluma!
A sanidade da sua ideia ou é ridícula,
ou nenhuma!

Podem ir em Paz, opositores do poeta!
Um poeta ama a Paz!
Um poeta tem muitas não só uma!
Um poeta sabe que ou tem a Paz da alma e a do corpo,
ou nenhuma!


Rui Diniz

13 fevereiro, 2007

A tabaco e vinho

A tabaco e vinho tento alcançar-te;
na ausência de um espera
que nos une e divide.
Passados tantos anos sem te conhecer,
sinto que vivi a apresentação
de uma qualquer cerimónia
em que premiaram a minha carreira
com o teu coração.
Uma carreira no cinema,
da qual só me lembro
da tua entrada em cena;
chegaste vinda de um Dezembro
sentindo que contracenar comigo
valeria a pena.

Há um certo gosto
que não se dilui neste Porto
nem no fumo de Amsterdão;
o sabor da tua boca em desejo
e do conforto
que te acompanha o sorriso e a mão...
Estou aqui, absorto.
À minha volta a vida ainda gira,
imersa na artificialidade da mentira,
perdida em rumos falsificados.
Quem dera que todos eles fossem amados
como o sou por ti, mulher...
Quem dera que todos eles pudessem colher
os frutos de uma boca como a tua,
pois aí estariam eles absortos,
e comigo, deixariam de girar na vida,
largariam as coisas e estariam de partida
para onde os meus sonhos vivem soltos.

Não sei em que lugar estou,
mas estou contigo.
Absorvo esta sensação no umbigo
de ver-te chegar de mansinho...
e entregue a tabaco e vinho tento alcançar-te;
na presença de uma espera ausente
que com meus sentidos no futuro
ainda vivo no presente...


Rui Diniz

02 fevereiro, 2007

O teu Tejo

Consigo agora saborear o doce Tejo
como a um milagre.
Confundo suas águas com a tua pele;
nas algas curtas que nele se banham
vejo o teu cabelo risonho...

Um barco passa, um sorriso teu;
o rasto que transpira
é o ajuste na tua face quando me olhas
feita Lua.
Tu mostras-me a Lua de todas as cores,
todos os tons
todas as indiferentes diferenças
que me ensinas a ver...
mesmo no cinzento de um céu nublado...

E perco-me na tua imagem...
Alcanço contigo a outra margem!

O Sol vai-se escondendo atrás de ti,
o Tejo leva ao Mar o teu beijo,
para se perder na tua foz arrepiada,
como eu, quando embriagado no desejo
de te dar a madrugada...

A luz da doca mistura-se
com o arrepio da tua lingua em meu suor...
A boia baloiça num movimento ritmado,
como quando me fundo em ti
e na Estrela brilhante
que te habita
a Alma...


Rui Diniz