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25 julho, 2012

Poesia, voltei a ti

Poesia, voltei a ti.
Talvez só por um bocado, para um copito e um acepipe.
Não posso demorar, mas claro que aceito o teu convite.
Que tenho para fazer? Ora, tu sabes, o mesmo do costume...
Não me olhes que me puxas para ti
e eu não tenho já pachorra para o teu queixume!
Vamos, com calma, espera, não me beijes assim!
Se continuas, todos os sonhos regressarão a mim...
E logo eu que tenho tão pouco tempo...
Não, não posso ficar!
Não insistas, já te disse, só tenho um bocadinho...
mas agora que te revejo... como posso seguir caminho?

Voltei, sim, meu amor, mas só por esta noite...
Só para dar uma volta na cama e me esquecer - para recordar uma ilusão.
Envolve-me hoje, pois amanhã todo o fogo que te move se escapará da minha mão.
Andei por tão longe que perdi a noção dos passos pelo caminho,
encontrei no meio de bugigangas que vasculhava, uma grande peste
e lá me deparei com gente convicta - assim como eu era, lembras-te?
Só que não pude acreditar nelas, nem em mim, e deixei-me sozinho.
Estão mortos, até mesmo os que, como eu, pensam ter em si vida...
Coloquei a minha verdade na grande pira, para que fosse consumida.
Ardeu... toda ela era mentira.
Não finjas que não entendes, eu terei de ir embora...
mas agora que te reabraço... como posso te deitar fora?

Poesia, promete que não me prendes.
Vim cá só ver-te, saber como estavas e se ainda sabes quem sou.
Como se mantém quente este teu quarto em que a peste nunca entrou!
Lá fora, o mundo é gelado à pele e vazio por dentro;
somos homens e mulheres perdidos,
como círculos desenhados sem a referência de um centro.
Pode ser que a vida volte a ter um gosto, uma nova vontade,
que em algum momento, haja o esquecimento desta verdade,
que como as outras será mentira!
Podes! Guarda-me em teus braços!
Oh Poesia, meu amor, prende-me no teu leito com toda a fantasia!
Amanhã partirei; triste sabendo que até tu serás perdida um dia...


Rui Diniz

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