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14 dezembro, 2005

Harmonia

A Lua dilui-se na tua pele que suavemente toco,
o Vento beija,
ciumento,
o teu cabelo como um louco...!
À volta,
mil espiritos arfantes sorvem a visão
dos truques mágicos
que aplica em teu corpo a minha mão...

Teu cerne arrepiado, rendido, provado
harmoniza-se com minh'alma,
vê-se transportado,
do que sentimos ao que nos une,
aquele sonho lindo
de sermos um em dois... chorando...

e sorrindo...!


Rui Diniz

27 novembro, 2005

Gerês


Após a digestão do jantar cedo,
a banheira enche-se de água quente e corpos
enroscado em deleite.
Relaxam a mente e a carne. Relaxam a vida.
Esperam que a água feita fria
lhes indique a saída...

...e já secos da desventura
deitam-se juntos e disfrutam-se...
Que de manhã o Pássaro que ouves
e a Paz verde que vês, anunciam que estás
no paraiso do Gerês.

A brisa agreste sopra fria,
mas o leite quente e o pão-manteiga
são os carinhos que nos entrega

o nascer do Sol...
num novo dia!


Rui Diniz

14 novembro, 2005

Escravos

Toca-a como nenhum homem.
Ferve a sua pele e deixa a marca no prazer.
Ela rende-se porque na luta não encontra vontade,
não foge, que aquelas mãos deixaram saudade;
No corpo e na alma,
no fulgor e na calma!

A sua nudez húmida é o paraíso dele,
que explora sem pudor
com as mãos mestras de um escravo...
um escravo Senhor...

um escravo do Amor.


Rui Diniz

30 outubro, 2005

Faol-Jon

Toda a alma tem duas faces.
Todo o espirito tem seus fantasmas.
Todos nós guardamos as maldições que nos são queridas, aquelas em que acreditamos.
Tantas vezes a morte é a luz ao fundo do túnel...

Conheçam a história de Jonathan... cliquem aqui.


Leiam, se tiverem paciência, e comentem!


Rui Diniz

21 outubro, 2005

Enquanto descansas...

Deves descansar por esta hora...
sozinha, aninhada, com a mente em teus projectos,
eu sei que o cansaço já não vai embora;
e que o sono nunca chega a tempos certos...!

Eu estou contigo... porém, meu corpo não canta aí;
nem meus braços afastam o frio da noite na cama vã,
nem meu olhar coloca de novo a chama em ti...
mas minh'alma aqui beija-te num tom menor de Chopin.

E apesar da pústula da tua ausência
com que me brindaste em teus braços longe,
ainda és tu a suave manta que me cobre
e o meu oásis no deserto frio!
Ainda és tu a espada que me fez nobre...
e és tu, mulher...

a razão porque sorrio. :)


Rui Diniz

09 outubro, 2005

Corações

E no momento em que os corações se confundem...
desliga-se o tempo.
Divide-se cada minuto em eternidades.
E em cada uma delas, um Momento apenas
é o suficiente para já ser Vida.

É que em cada vida procuramos definir nossas Almas
e ao fazê-lo, entrelaçamos os corações que batem;
aquelas peças mecânicas que sentem,
que aquecem, que matam e morrem,
que vivem e ressuscitam.

Em cada vida que vivi, em cada coração,
em cada passo, em cada luta,
em cada beijo que os fez bater mais forte...
foram sempre meus, os corações.

Mas agora, que a Arca foi aberta,
que o Selo foi quebrado,
o Lobo de guarda... amestrado,
que os Beijos são Momentos,
e os minutos Eternidade...
é no momento em que os Corações se confundem
que as cores do meu e do teu
se Fundem.


Rui Diniz

01 outubro, 2005

Congelado

Antes, um homem enorme, importante!...
Hoje, ninguém me quer.
Tenho quem me ame, mas se não amo
de que vale ter quem magoo tanto?

Quando sou grande, sou pai, sou filho,
um anjo, um marido, o espirito santo!
Pequeno, sou um trapo que se arrasta
sem saborear a luz do dia...

Se algum dia for grande outra vez,
que seja de vez;
O meu sangue está congelado no tempo
à espera do quente alento...
para correr.

Rui Diniz

18 setembro, 2005

Cigarrilha e Whisky II : Uma Tarde

Ouro sem gelo no copo entre dedos,
respiro mel cubano que extrai meus segredos
enquanto a parente carinhosa farisca
e sem receio a mão livre mordisca.

Com Amália... dei por meu sangue chorar,
incapaz de viver e se aventurar...
neste coração obsoleto sem tic tac,
simples presa fácil de qualquer ataque!

Deixei o tempo passar, o disco correr
numa azáfama para se recolher...
e sempre mais cedo que o preciso
deixou o silêncio acordar o bom siso.

De volta ao meu dia escondo a sombra
e deixo que a luz me olhe contra;
Autómato, largo-me peão deste jogo.
Assim à sorte talvez um dia o meu lume...
seja fogo.


Rui Diniz

13 setembro, 2005

Cigarrilha e Whisky I : Cidade-Museu

Aqui estou eu, comigo.
Enquanto outros dormem e vivem,
eu brilho no escuro.

Cigarrilha na mão, whisky tão perto;
"Fantástica" como o meu coração não está só.
Eh, "Fantástica". É esse o termo certo.
Quem iria dizer... após tanta vida e morte em mim,
tanta pouca sorte,

surge-me a certeza tão sublime que não doi;
que alegra, engrandece, me faz respirar,
cantar de novo de manhã!

Única... mulher de trajes comuns,
fornalha de aldeia, pele branca, olhos seguros,
Alma Gigante... tomou-me;
De dentro para fora como uma estrela que nasce,
se espalha no vazio que me dá forma.
Como uma gota de água, brilho com o seu brilho,
reflito a luz do sonho que me deu
numa noite de domingo

na Cidade-Museu.


Rui Diniz

05 setembro, 2005

Dormência

Quando sentes, fá-lo em forma de prosa!
Que só rime no mel de versos avulso
quase sem sentido, quase à deriva,
quase perdidos na água esquiva
que quando vês deixas escorrer
da barragem de marfim e ébano,
enquanto fechas as comportas
para que a luz não fira mais...
A luz porta dores reais...


É que mais vale não ver, virar o archote,
fingir que a alma é um pote,
inquebrável, sem retorno,
sem uma pinga de transtorno...
e assim talvez na massa estéril
em que se torna o ex-coração forte
te surjam fontes de alma dócil,
cuja vida mate a raiz
da tua morte...


Rui Diniz

29 agosto, 2005

Aguardo-te...

Acordo mais uma vez...
Alterei de novo a força do destino
à força dos teus olhos sorrindo...
e quero vê-los.

Se as nossas vidas se cruzaram
e nos mantêm à guarda, esperando,
é porque esperar é um passo
e o teu sorriso um avanço.

Sorrirás?
Sentes mesmo que consigo retribuir o sonho vendido,
incluso no preço do piano esvoaçante
que se escapou, rasgado o autocolante?

Aguardo-te... e sinto que sempre.
Mistura de pressa dura com suspense,
porque por ti só posso ficar
a sonhar que um dia a espera sempre alcance...


Rui Diniz

22 agosto, 2005

Cem Palavras II : Feirãozinho

Aqui está a segunda foto, o segundo poema:



Era um pequeno pedaço húmido este império,
Cujo vulgo charco num mar se revelava…
E eu miúdo, no cimo deste castelo verde musgo, etéreo
Defendia o meu reino com os canhões que trovejava!

Vestia eu de Comandante fino com alto brio
Que erguia com coragem o seu Brasão!
E disparava vaidoso o mosquete-pau no vazio
Esmagando a meus pés uma bárbara invasão!



Regresso agora ao topo do meu forte contemplante
Em que outrora me perdia nas ilusões de criança
Mas hoje, já sem meus sonhos ou paixões de galopante,
Rendo-me à água calma… à luz cinzenta…
ao reflexo da esperança…



Rui Diniz

15 agosto, 2005

Cem Palavras I : Moinho de Dornas

"Cem Imagens, Cem Palavras", era este o título de uma exposição de fotografia de Dinis Cortes, um duende amigo meu, que me convidou, bem como a outros, para textualizar as suas fotos com nem mais nem menos que cem palavras.
Esta é a primeira das que me calhou. A segunda seguir-se-á para a semana. Leiam e comentem!



Neste lugar de paz e tumulto,
onde a Maria disse José que se ia
e fugia do seu leito
já que o mundo entrava ainda em seu peito,
consumindo a aliança no seu dedo,
ardendo a pele em que jazia,
sempre a forte água em suas gotículas prementes
fustigou a pedra por si mesma mastigada.

José não voltou mais
e Maria não deixou este solo sem si, sem seu sangue,
sem seu cadáver de mártir a um Amor
cortado pela mácula sem perdão,
pela hábil lâmina da tesoura
que sempre foi útil na mão de uma bela Maria
costureira, benfeitora…



Rui Diniz

08 agosto, 2005

Mateus

Há alguns anos atrás, por puro tédio, comecei a escrever uma história enquanto trabalhava no horário da noite (trabalhei à noite durante dois anos e meio). Não tinha grande ideia do que queria escrever... era o primeiro conto que me comprometi a completar, após tantos abandonados praticamente à nascença. Mas a história foi tomando forma, escrita aos poucos. Nele fui depositando tanto do que vivi num ano, de negro e de soalheiro, como do que vislumbro na vida e no sistema dos homens.

Leiam, se tiverem paciência, e comentem.

Bem haja!

Cliquem aqui: Mateus

07 agosto, 2005

Na corte d'El-Rei...

Na corte d'El-Rei...
dançam Bailarinas, cantam Trovadores,
coram as meninas p'los olhares dos senhores!
Monta o Circo a tenda, domam-se aqui leões
- que El-Rei pertence a nobres Lampiões... ;) -
Cantam-se Mil Ânsias, como há anos se fazia
e toda a gente pode ser um Rei por um Dia!
Não tenham medo mas tenham o Amor
que vem em segredo e acaba em clamor!
Não pagam entrada, os convites vos dei
para que entrem e vivam...

aqui na corte d'El-Rei!...