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21 maio, 2007

Momento

Fotografia de autoria de Alex Gil

Piano de fundo,
é Jarrett em Viena,
um murmúrio
na roupa
que largamos em cena...
Umas mãos saudosas,
suaves e quentes,
invadem
teus espaços
incandescentes...
A boca de nós dois
resolve o mistério
por detrás
do sabor
de um beijo sério...
As verdades que vestimos
deixámos à porta,
que aqui dentro,
o momento,
é só o que importa...
Tens na pele
marcado
o mestrado da vida
e eu tenho na minha
suavidade contida...
Gritas e gemes
no teu mar revolto,
arrepios
atravessam-te
quando te volto...
Com as mãos na parede
eu entro em teu corpo,
vês que na verdade
ele tem estado
morto...
As mãos saudosas,
que agarram o arrepio,
são vivas lembranças
do teu rodopio...
Deixaste-me o corpo,
escorrendo prazer,
encontrei-te
nas nuvens
e refiz-te Mulher...
Se o orgasmo que soltas
for um grito infinito,
nós dois cantaremos
no prazer
deste calor...
bendito.


Rui Diniz

14 maio, 2007

Professor

Passo os meus dias com as crianças,
fingindo ser um pai que não respeitam.
Deixo a consciência à porta,
remeto o coração ao silêncio,
presido a rituais de veneração
a livros gastos e indolentes.

Não apresento nada de novo
e não o faço por mim.
Faço-o por chegar a casa e tê-la.
Faço-o para dar alimento ao corpo
e para preservar
este "eu" tão submisso...

Sou professor ou lá o que isso é...
não ensino nada nem tal é suposto;
devia ser um auxilio e não um posto.
As crianças nem me ouvem e ainda bem...

Eu alimento a esperança tímida
de que são os que fogem
que um dia
serão alguém...


Rui Diniz