És mulher,
pois és criadora;
e manténs, à chama do amor-animal,
a abominável senciência que te devora,
aquele filho falho, o pai de todo o mal,
aquele poluto ser
de que és protectora.
Por isso deves permanecer pura:
És a forma que o homem Ama,
mas assim como Eva jaz Bela-Adormecida,
Adão não te beijará sem que queiras o seu enlace;
terás primeiro de purgar a vaidade da tua face!
A tua pele, a tua forma, os teus jovens sumos,
sendo aqui criados, todos se esbaterão de vida;
Queres ser Amada como o foste no Início,
mas entregas às larvas o teu húmus,
que poluem o ar irrespirável que agora inalas!
Entregas-te vã ao pútrido suplício
com um fátuo sorriso que absorta exalas,
pois, orgulhosa no teu vício,
pensas conseguir domar o tempo!
Entregas-te a poderes e autoridades,
profanando as chaves do teu templo,
voluptuosa entre corpos de pequenos reis.
Tua garrida máscara acolhendo obscenidades...
Tua alma agrilhando-se a anelos fúteis...
Teu húmido altar, uma barcaça sem leme...
O frio tempo com que a criação te espreme,
secará a tua falsa árvore um dia;
E o teu sonho, a tua visão, a tua profecia,
de um Regresso à Glória de Eterna Alegria,
sumirá na decrepitude de quem o tempo teme!...
Por isso deves permanecer pura:
És a forma que o homem Ama,
mas não podes ser sua e do tempo concubina.
Terás de te livrar da pedra dura,
Terás de te limpar da imunda lama,
e um dia apagar
o que te amargura,
o que te inflama,
o que tanto te fascina.
Só és mulher,
porque és criadora;
e não matas, à luz do bem e do mal,
a execrável senciência que te implora,
aquele filho da morte, o pai material,
aquele poluto ser...
de que és progenitora.
Rui Diniz
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