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29 agosto, 2006

Cavalheiro

Hoje, fumei um cigarro.
Emprestaram-me o isqueiro,
deram-me o invólucro branco-laranja,
e foi com a alma em franja
que cheguei à sala do fumeiro
e entre a impestação alheia por catarro
me esfumarava inteiro.

Entrou uma mulher;
"Tem lume?" - mordendo o cigarro ao meu fogo ofertado
"Sim" - passando-lhe para a mão o mecanismo emprestado
Surpresa, não se conteve; "Julguei ser um cavalheiro!"
Rindo-me retorqui, com o meu ar mais matreiro:
"Que maior confiança deposito que ter na mão o meu isqueiro?"

É que nestas convenções de cavalheiros
escondem-se sagazes predadores de atenção,
mas são os que não procuram ser certeiros
que guardam os melhores sorrisos
no coração!


Rui Diniz

02 agosto, 2006

Serpente

Se o que sensoriamos
é apenas um infinitésimo do infinito,
como podemos afirmar ser verdadeiros?

Não! Somos é estrangeiros em todo o lado,
escamas de uma serpente
que morde o próprio rabo!

Não morre esta serpente,
gira eternamente, que nem um carrocel
e nós com ela, crianças,
colados à sua pele...

Surgirá o dia em que,
continuando a serpente girando,
me solto dessa pele ilusória por tanto tentar
e de fora,
certificado que a serpente não existe,
afagarei todas as escamas,
iluminarei a penumbra
que as faz permanecer
neste destino
tão triste...


Rui Diniz

Encontro

Encontramo-nos pelo Caminho.
Sem chá, sem cerimónia,
sem condicionantes ou ilusões.
Apareceremos na memória de um evento
que nunca terá lugar,
sem momento para acontecer,
nem tempo para acabar.

A sala estará vazia.
Não será rica nem pobre,
feita apenas do Ouro Nobre
cujo brilho não vicia...

Até já!
A eternidade desta espera
cabe toda
num segundo...


Rui Diniz