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22 junho, 2007

M

Manto sobre manto,
regra atrás de regra,
descobrimos o encanto
da existência cega...!

Manto sobre manto,
linha atrás de linha,
constato com espanto
que a visão não é só minha...!

Manto sobre manto,
porta atrás de porta,
revela-se o quanto
esta vida não está morta...!

Manto sobre manto,
ânsia atrás de ânsia,
sacrifica-se um santo
para manter ignorância...!

Manto sobre manto,
grito atrás de grito,
entoo este canto
p'lo despertar que agito...!

...

Manto sobre manto,
vida atrás de vida,
espero no entanto...
alcançar-lhe uma saída...


Rui Diniz

12 junho, 2007

Amo

Amo no meu corpo.
Amo nas ligações entre átomos
ou lá o que se queira chamar ao infinitésimo
da infinita parte do que nada é.
Amo e apenas amando
me mantenho unido,
na forma do que interpretas
como um homem de bom umbigo.

Amo na minha mente.
Amo nas correntes cíclicas entre pensamentos
e nas espirais da consequência
daquilo que do nada é consciência.
Amo e apenas amando
me mantenho pensante,
na forma do que interpretas
como um homem bem ensinante.

Amo na minha alma.
Amo nos estágios da simbiose
entre os sonhos que a existência inflama
e que a essência acalma.
Amo e apenas amando
me mantenho existente,
na forma do que interpretas
como um espírito de sol nascente.

Amo...
logo existo.


Rui Diniz

05 junho, 2007

Reflexão sobre o que nada é

Chamo-lhe mudança mas alimento-a de esperança.
Na via do inevitável nem um generoso raro
me adoça a boca,
porque o que corre nas minhas veias é sangue
de esperança,
sangue modificado e memorizado
no esquecimento dos milénios.

Ajo esperando, como se não tivesse fuga
e na realidade fujo dela
pelo medo de não existir mais.
Resta-nos pouco tempo e eternidades banais,
umas futilidades inúteis,
uma eterna procura pela quimera que não existe,
pela segurança de lá fora
imposta cá dentro...
mas o que não nasce aqui dentro não vive
e por isso não morre!
Se não fizessemos questão em nascer
e fazer nascer vez após vez,
nunca morreriamos e na realidade, como agora,
não existiriamos - nem num sonho mal dormido.

A verdade é que nada é;
nada pode ser mais que uma forma numa chama
que o vento sopra!
Nada nem ninguém se segura à ilusão de
existir em si, por si, para si...
que nada é e nada se cobra!
Deixamos uns contratos assinados
com o futuro incerto
e outros tantos que nem lemos
por nos faltar a vista
e por esta miragem persistente nos envolver,
como múmias num sarcófago, embalsamados.
Somos é uns mal-amados!
Renegados por nós próprios
seguindo as imagens veneradas
que tão longe estão de nós como as estradas
que nos apontam para seguir os nossos ópios.

Ergue-te ó tu que nada és!
Ergue-te e luta pelo teu pedaço de nada
que é Amor da cabeça aos pés
e que vale a pena ser defendido...
nesta esperança da mudança
que afinal, como nós,
nada é de definido
e só vive na etérea
lembrança!


Rui Diniz



Acabei de criar um audioblog onde junto todas as declamações de poemas (maioritáriamente meus) que vou gravando. Se quiser dar uma olhada (e uma escutadela), visite A Voz da Corte.