
É à luz do candeeiro na tua sala
que encontro o resguardo
da minha própria sombra.
Perdia-me na minha noite,
vagabundo, derrubado, derrotado,
renegado pela minha concepção de mim,
ainda que a mim imposta...
Sempre tive escolha e não escolhi.
Sempre tive na minha mão
a segurança de que o Mundo
é outro e não este;
de que o véu é um véu
e não o escuro fundo
de uma existência funesta.
É à luz do candeeiro dos teus sonhos
que descubro,
enquanto a nossa carne se fricciona,
que a Alma afinal redescobre-se
a cada orgasmo,
pelo poder das feromonas que acciona
em nós, o entusiasmo de estar vivo.
Podia continuar perdido mas encontrei-te;
e contigo nesta sala das nossas noites
descobri o dia de sol que sempre quís ver;
rebolei nas concepções de amor e Amor
e nunca me pediste que voltasse
aos teus braços, nunca!
Nunca pediste que nos soldasse num compromisso...
E é isso que faz com que permaneça
o Desejo que nos mantém quentes,
noite após noite,
sem esperança,
nem vontade,
que amanheça...
Rui Diniz