Quando eu nasci
ninguém me perguntou
se queria viver aqui.
Prometeram-me felicidade
a troco da vontade
em obedecer a quem não sou!
Entrei no mundo pela calada,
ao princípio de uma noite
ordenada...
por aqui fiquei
e aceitei
que a minha vida não é nada!
Pus-me de joelhos perante autoridades
sem então saber que vontades
as comanda!
Acolhi as vossas verdades!
Fiz minha a vossa demanda!
E continuei com nada!
É por isto que a solidão me invade!
A solidão de quem está cercado
sendo soldado
numa guerra sem piedade!
Guerra em nome da consciência!
Da decência!
Da evidência!
Da essência!...
Guerra contra o perigo
da vossa urgência
em trazer de novo
o Mundo Antigo!
Querem o Quinto Império
em nome de um Deus que vos sorriu?
Pois levem o Império
para a puta que vos pariu!
Quero lá saber se estou bêbedo e cansado!
Não me tivessem lançado ao rodopio!
Mesmo que venha a ser um mal-amado
e para vós, doentio,
lanço o meu grito desprezado!
Hoje estou fodido!...
E se não gostarem do vocábulo,
mudem-lhe o sentido,
mas eu não fico no estábulo!...
Como sou eu quem este poema vos traz,
e estou fodido,
se não gostarem do que digo,
deixem-me em paz!
Rui Diniz
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28 janeiro, 2007
22 janeiro, 2007
Pátio Gaivota
A fotografia é de autoria da Alexandra Gil. Pode ouvir a minha declamação (desta vez caseira) deste poema, aqui: Pátio Gaivota
Apercebo-me que estou perto.
Um arrepio atravessa-me.
Há muitos anos não estou tão próximo
deste lugar incerto.
Saí de casa um menino,
procurando a lucidez
entre o sábio e o divino,
encontrando na viagem,
nitidez.
Ali está ela,
a casa do canto,
com a mesma porta...
e à volta dela
o mesmo encanto,
do perdido Pátio Gaivota...
Nos vasos, outras flores,
no ar, já sem o veneno
das passadas dores,
transpira um trapo
mais sereno...
A porta abre-se,
revela uma criança de sorriso ardente,
o mesmo sorriso ingénuo
agora de mim tão ausente!
É filha de alguém feliz!
Refugio a vergonha
por detrás de um cigarro,
e quando de lá dentro alguém diz
"Cuidado com algum carro!"...
a criança sonha!
O infante brinca indiferente,
alheio à minha tortura,
infligida pela lembrança
da negrura
desse Pátio Gaivota
do meu tempo de criança!
E este olhar pungente
o meu saber não enxota!
A criança passa correndo
e sou eu que vou lá,
brincando,
ardendo,
sonhando,
perdendo,
fumando,
esquecendo...
que a criança sofrendo,
afinal,
já lá não está.
Rui Diniz
Apercebo-me que estou perto.
Um arrepio atravessa-me.
Há muitos anos não estou tão próximo
deste lugar incerto.
Saí de casa um menino,
procurando a lucidez
entre o sábio e o divino,
encontrando na viagem,
nitidez.
Ali está ela,
a casa do canto,
com a mesma porta...
e à volta dela
o mesmo encanto,
do perdido Pátio Gaivota...
Nos vasos, outras flores,
no ar, já sem o veneno
das passadas dores,
transpira um trapo
mais sereno...
A porta abre-se,
revela uma criança de sorriso ardente,
o mesmo sorriso ingénuo
agora de mim tão ausente!
É filha de alguém feliz!
Refugio a vergonha
por detrás de um cigarro,
e quando de lá dentro alguém diz
"Cuidado com algum carro!"...
a criança sonha!
O infante brinca indiferente,
alheio à minha tortura,
infligida pela lembrança
da negrura
desse Pátio Gaivota
do meu tempo de criança!
E este olhar pungente
o meu saber não enxota!
A criança passa correndo
e sou eu que vou lá,
brincando,
ardendo,
sonhando,
perdendo,
fumando,
esquecendo...
que a criança sofrendo,
afinal,
já lá não está.
Rui Diniz
14 janeiro, 2007
Quando Eu Morrer
Usufruindo das soberbas capacidades técnicas do Estúdio Raposa e da mestria e sapiência como produtor do Luiz Gaspar, gravei a minha declamação deste poema. Ouça-a aqui, enquanto o lê: Quando Eu Morrer
Quando eu morrer...
Morre o filósofo e o poeta,
morre o homem da caneta.
Morre o jovem e o idoso,
morre o pensante perigoso.
Morre o músico vacilante,
morre o nobre viajante.
Morre o intrépido cavaleiro,
morre o tímido prisioneiro.
Morre o charmoso galã,
morre o menino da mamã.
Morre o monstro condenado,
morre o mestre iluminado.
Morre um corpo que figura
esta Alma que perdura!
Morte!
A metáfora suprema,
a mudança de cena.
A destruição da evidência,
a afirmação da existência.
A sensação de liberdade,
a desilusão da saudade.
A podridão da biologia,
o alimento da maioria.
A promoção do lamento,
a suspensão do sofrimento,
O elemento indiferente,
o momento convergente!
Por isso,
quando eu morrer...
cantem Bécaud!
Inundem-se com a canção que vos dou
cheios da vida que vos compete:
"Quand Il est mort le poéte..."
Rui Diniz
Quando eu morrer...
Morre o filósofo e o poeta,
morre o homem da caneta.
Morre o jovem e o idoso,
morre o pensante perigoso.
Morre o músico vacilante,
morre o nobre viajante.
Morre o intrépido cavaleiro,
morre o tímido prisioneiro.
Morre o charmoso galã,
morre o menino da mamã.
Morre o monstro condenado,
morre o mestre iluminado.
Morre um corpo que figura
esta Alma que perdura!
Morte!
A metáfora suprema,
a mudança de cena.
A destruição da evidência,
a afirmação da existência.
A sensação de liberdade,
a desilusão da saudade.
A podridão da biologia,
o alimento da maioria.
A promoção do lamento,
a suspensão do sofrimento,
O elemento indiferente,
o momento convergente!
Por isso,
quando eu morrer...
cantem Bécaud!
Inundem-se com a canção que vos dou
cheios da vida que vos compete:
"Quand Il est mort le poéte..."
Rui Diniz
08 janeiro, 2007
Sinto-me Só
Sinto-me só,
como quaisquer magos;
Como qualquer Rei com um só olho
num mundo de cegos;
E só me sinto,
mesmo não estando na verdade;
mas não se escuta o som das vozes
que deviam encher as plateias
do re-despertar da Humanidade!
Sim! Onde está o calor das gnoses
que nos podiam aquecer ideias
ante a glaciação da realidade?
Que passos demos nós,
em prol da consciência,
se essa consciência a que pertencemos
só nos dá a noção da força que não temos?
E sinto-me só! Sinto-me só e com frio!
Sinto os meus pensamentos congelar no hipnotismo
de uma existência na nossa mente forçada,
e dominada, no materialismo!
Seres poderosos feitos tão fracos,
transformados de transparentes em opacos
com apenas uns anos no delírio
de serem trapos!
Que mortes vos esperam mentes inúteis?
Talvez tão inúteis como a minha,
talvez ainda mais fúteis;
se adoradores da Rainha.
Sinto-me só convosco, meus amores,
que vos amo a todos ainda
e aí sim, como nos programas,
talvez para sempre o sinta.
Assim é, não sei mais como vos diga;
sinto-me só;
aprisionado entre a fadiga
e o nó!
Peço-vos,
aos que despertam no perigo,
vençam os medos!
Peguem nas fundas!...
E partilhem comigo:
segredos
e perguntas!...
Rui Diniz
como quaisquer magos;
Como qualquer Rei com um só olho
num mundo de cegos;
E só me sinto,
mesmo não estando na verdade;
mas não se escuta o som das vozes
que deviam encher as plateias
do re-despertar da Humanidade!
Sim! Onde está o calor das gnoses
que nos podiam aquecer ideias
ante a glaciação da realidade?
Que passos demos nós,
em prol da consciência,
se essa consciência a que pertencemos
só nos dá a noção da força que não temos?
E sinto-me só! Sinto-me só e com frio!
Sinto os meus pensamentos congelar no hipnotismo
de uma existência na nossa mente forçada,
e dominada, no materialismo!
Seres poderosos feitos tão fracos,
transformados de transparentes em opacos
com apenas uns anos no delírio
de serem trapos!
Que mortes vos esperam mentes inúteis?
Talvez tão inúteis como a minha,
talvez ainda mais fúteis;
se adoradores da Rainha.
Sinto-me só convosco, meus amores,
que vos amo a todos ainda
e aí sim, como nos programas,
talvez para sempre o sinta.
Assim é, não sei mais como vos diga;
sinto-me só;
aprisionado entre a fadiga
e o nó!
Peço-vos,
aos que despertam no perigo,
vençam os medos!
Peguem nas fundas!...
E partilhem comigo:
segredos
e perguntas!...
Rui Diniz
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