
Andei por tanto tempo à procura de tanto
para neste quarto de hospedaria
encontrar o meu ultimo poiso.
O que procurei foi a cura para as mágoas
que este fogo intenso de frustração sem fim
de quem não sabe o que procura
criou em mim...
Fuga das mágoas que magoaram os pés de tanto procurar,
pés que tentava controlar, mas que queriam dor!
É que a dor faz respirar...!
E eu procurava, incessantemente.
Obedecia-lhes cegamente.
Nunca souberam aproveitar o descanso de uma carpete macia,
nem de se deixar ficar nús, num só sitio,
por mais que uma noite suada...
Subi degraus até ao Céu, ceei com estrelas e anjos...
Desci a escadaria do Inferno onde queima o terror psicótico!
Nunca soube parar.
Nunca soube dar-lhes a voz de comando, aos pés,
aos sapatos, que sem retorno levaram à exaustão
da vida neste corpo...
E é um corpo cansado que se apresenta
no chão frio de pés nus hoje...
Na ultima força, deposito os sapatos carinhosamente,
sabendo que foram seres de ego próprio
que me ajudaram a fugir de mim,
e deito-me na cama desfeita,
fecho os olhos e parto,
sem pés,
sem caminho,
rumo ao infinito...
Rui Diniz