A tabaco e vinho tento alcançar-te;
na ausência de um espera
que nos une e divide.
Passados tantos anos sem te conhecer,
sinto que vivi a apresentação
de uma qualquer cerimónia
em que premiaram a minha carreira
com o teu coração.
Uma carreira no cinema,
da qual só me lembro
da tua entrada em cena;
chegaste vinda de um Dezembro
sentindo que contracenar comigo
valeria a pena.
Há um certo gosto
que não se dilui neste Porto
nem no fumo de Amsterdão;
o sabor da tua boca em desejo
e do conforto
que te acompanha o sorriso e a mão...
Estou aqui, absorto.
À minha volta a vida ainda gira,
imersa na artificialidade da mentira,
perdida em rumos falsificados.
Quem dera que todos eles fossem amados
como o sou por ti, mulher...
Quem dera que todos eles pudessem colher
os frutos de uma boca como a tua,
pois aí estariam eles absortos,
e comigo, deixariam de girar na vida,
largariam as coisas e estariam de partida
para onde os meus sonhos vivem soltos.
Não sei em que lugar estou,
mas estou contigo.
Absorvo esta sensação no umbigo
de ver-te chegar de mansinho...
e entregue a tabaco e vinho tento alcançar-te;
na presença de uma espera ausente
que com meus sentidos no futuro
ainda vivo no presente...
Rui Diniz
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13 fevereiro, 2007
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4 comentários:
Tocante...
Qualidade poética e alta muito alta concentraçao de sentidos.
BELO!
Isabel
Concordo.
(Mas cuidado que o tabaco faz mal)
Vitorino
Uau, não tenho palavras para definir meus sentimentos ao ler este poema. Fico cá pensando o que o teria inspirado a escrever sobre tal tema? Será realidade ou pura ficção?
Lívia Nunes
Ambas; quando uma ilusão nos invade a realidade, ela funde-se e deixamos de distingui-la até ao momento em que se dissipa de vez. Aí, a realidade nua torna-se a única coisa tangível e também tudo aquilo que não queremos ver nem tocar.
A mente humana é um editor de Hollywood :-)
Sempre bem vinda, Lívia,
Com Consideração,
Diniz
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