Chamo-lhe mudança mas alimento-a de esperança.
Na via do inevitável nem um generoso raro
me adoça a boca,
porque o que corre nas minhas veias é sangue
de esperança,
sangue modificado e memorizado
no esquecimento dos milénios.
Ajo esperando, como se não tivesse fuga
e na realidade fujo dela
pelo medo de não existir mais.
Resta-nos pouco tempo e eternidades banais,
umas futilidades inúteis,
uma eterna procura pela quimera que não existe,
pela segurança de lá fora
imposta cá dentro...
mas o que não nasce aqui dentro não vive
e por isso não morre!
Se não fizessemos questão em nascer
e fazer nascer vez após vez,
nunca morreriamos e na realidade, como agora,
não existiriamos - nem num sonho mal dormido.
A verdade é que nada é;
nada pode ser mais que uma forma numa chama
que o vento sopra!
Nada nem ninguém se segura à ilusão de
existir em si, por si, para si...
que nada é e nada se cobra!
Deixamos uns contratos assinados
com o futuro incerto
e outros tantos que nem lemos
por nos faltar a vista
e por esta miragem persistente nos envolver,
como múmias num sarcófago, embalsamados.
Somos é uns mal-amados!
Renegados por nós próprios
seguindo as imagens veneradas
que tão longe estão de nós como as estradas
que nos apontam para seguir os nossos ópios.
Ergue-te ó tu que nada és!
Ergue-te e luta pelo teu pedaço de nada
que é Amor da cabeça aos pés
e que vale a pena ser defendido...
nesta esperança da mudança
que afinal, como nós,
nada é de definido
e só vive na etérea
lembrança!
Rui Diniz
Acabei de criar um audioblog onde junto todas as declamações de poemas (maioritáriamente meus) que vou gravando. Se quiser dar uma olhada (e uma escutadela), visite A Voz da Corte.
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2 comentários:
quem diria, quem diria
que ainda há quem saiba de poesia
(nesta modorra de dia-a-dia)
...centelha da vida. herança positiva.
muito bonito, Rui.
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